Lista: os sete pecados capitais das finanças

O conceito de pecado vem da tradição bíblica e se transformou numa chave de análise do comportamento humano, desde a Idade Média até hoje. Vamos analisar do ponto de vista de finanças a percepção desses pecados no mundo contemporâneo. Embora essas questões tragam uma série de interpretações, acredito que haja semelhança entre esses dois mundos, pois trata-se sobretudo de comportamento. Portanto, teremos a presença deles ao longo da nossa jornada financeira. 

1. VAIDADE

O vínculo com o vazio na própria expressão ”vanitas” é a origem desse pecado. Ela traz consigo esse espaço que sentimos necessidade de preencher, uma lacuna que acabamos alimentando com futilidades, coisas que nos elevam diante dos outros, gerando um pequeno carinho no ego.

Estamos falando dos orgulhosos que vestem armadura social e acabam esquecendo de tirá-la ao longo do tempo. Quando nos comportarmos da forma que queremos ser notados perante o outro e não como nós mesmos, esse comportamento ao longo do tempo cria raiz. Logo, estamos cegos de vaidade.

A busca pela atenção e o desejo de ser importante faz como que não consigamos mais nos desvencilhar dessa armadura que vestimos ao longo da vida, e quando nos damos por conta, não sabemos mais quem realmente somos. O remédio é a humildade genuína, ou seja, quando você abre mão da atenção em momentos que você sabe que merece.

Nas finanças… ela é facilmente encontrada no consumo pela própria definição de status: “comprar algo que eu não preciso para mostrar para pessoas aquilo de que eu não gosto e uma pessoa que eu não sou”. Financiamos a armadura para preencher o vazio, nos sentimos importantes com nossos bens materiais que só servem para impressionar os outros, e não pelo benefício do produto em si. 

2. INVEJA

É muito difícil sobreviver ao convívio com alguém melhor do que nós. A forma como avaliamos as coisas geralmente é feita através do histórico e da comparação. A raiz desse costume se estende no nosso comportamento e, muitas vezes, somos flagrados fazendo julgamentos, desdenhando pessoas em situações nas quais gostaríamos de estar.

Estamos falando da legião de ressentidos, que ganharam voz com a internet. Isso é fruto da desigualdade social ocasionada pela sociedade de mercado. A percepção de que as pessoas são melhores nos faz focar no ponto errado e perder enquanto pessoas. A consequência é o tempo que perdemos cuidando da vida dos outros como se isso fosse melhorar a nossa.

É difícil ser colocado de lado como insignificante e aceitar a atenção da sociedade aos “maiorais”. O ego é atingido quando não somos prediletos e isso acarreta o pecado da inveja. O remédio para ela talvez seja a indiferença em relação a esse mundo fútil e chato de ostentação e necessidade de se provar o tempo todo. 

Nas finanças… geralmente é refletido em relação aos concorrentes. Não reconhecer e aprender quando eles fazem algo antes, melhor ou mais rápido, pode alterar nossa cognição, o que nos leva a agir com foco no problema e não na solução. Essa alteração na direção da estratégia da empresa certamente será prejudicial, pois está sendo feito sem subsídio racional, e sim emocional.

3. PREGUIÇA

É uma espécie de ceticismo do corpo. Pode ser considerado uma espécie de melancolia, uma forma de desacreditar nas pessoas, não acreditar no mundo, uma aversão pelo gosto da existência. É o fim da vontade e do desejo, que nos torna indiferentes a tudo, como se a vida não pudesse dar mais nada a nós e nada valesse a pena.

Não existe confiança nas pessoas nem na evolução delas. Mais do que isso: não há interesse por nada. A “depressão da vontade” seria a expressão mais conceitual para esse pecado, como se o coração (motor da alma) fosse atacado. O remédio é A confiança no mundo, que sugere que acreditemos nas pessoas, criemos expectativas sobre elas e tenhamos esperança em um mundo melhor. 

Nas finanças... aparece suavemente no nosso dia a dia através da procrastinação. A falta de controle da produtividade e a má organização das agendas de colaboradores, somados à ausência de metas e prazos, dão lugar à ineficiência, que gera cansaço onde as tarefas sempre ficam para depois.  

4. GANÂNCIA

A virtude do capitalismo traz consigo o pecado capital que se forma no momento em que a pessoa “não consegue parar”. O termo foi gourmetizado com a indústria do coach da prosperidade (essas pessoas que precisam ser incentivadas para trabalhar porque já possuem casa, comida e roupa lavada, mas não possuem uma BMW na garagem ainda).

Porém, essa “virtude” mostra seu lado tétrico quando se manifesta e altera nossos valores éticos, e acabamos passando por cima de tudo em prol da “prosperidade” sem fim. A busca pelo bem material sem cessar está na moda. É uma linha tênue que reside nos malefícios que essa conduta pode desencadear.

As consequências, aliás, não são só para os outros, mas para nós mesmos, que muitas vezes somos vítimas da nossa própria ganância. Falando nisso, finanças e ganância parecem andar lado a lado, mas é justamente o ganancioso que sempre perde dinheiro no final do filme. O remédio para ela é a generosidade..

Nas finanças… é a sua materialização. Avarento é aquele que passa por cima dos valores morais e humanos para vencer no mundo dos negócios. Andaram lado a lado durante quase toda a era moderna, principalmente após revolução industrial. No entanto, o desenvolvimento sustentável e as enormes quantias doadas pelos mais afortunados têm demonstrado que a caridade é a grande virtude do mundo dos homens, e não o contrário.   

5. GULA

Possui um forte apelo físico, mas deforma os corpos. A obsessão pelo gosto da comida, diferentemente da obsessão pelo gosto do corpo, desperta nojo em quem vê. A ansiedade também se manifesta através da gula, o egoísmo de presumir que não haverá alimento para todos antes mesmo de iniciada a refeição.

Esquecer os modos e os bons costumes quando tomados pelo desejo de saciar nossa vontade é uma expressão inconfundível de gula. Atualmente, a gula reversa tem matado mais: a mania de morrer magra é maior do que o desejo pela vida. Esse comportamento seria impossível nos tempos antigos.

A luxúria e a vaidade são primos da gula reversa. Aparecem nessas manifestações de obsessão com o corpo no intuito de se mostrarem esbeltos perante o outro. O remédio para a gula é o cansaço. Não o cansaço da preguiça, que é a falta de vontade, mas a exaustão de se dedicar a algo que não é virtuoso.

Nas finanças… significa o desleixo e o descuido com as coisas que possuem valor. Se trocamos nosso tempo por dinheiro, precisamos pensar bem quando gastamos ele, pois estaremos desperdiçando a nossa vida. Logo, a obsessão por agir impulsivamente faz com que a gente não reflita sobre o valor das coisas. Assim, a miopia gerada pela gula terá um impacto negativo sempre. 

6. LUXÚRIA

É a escravidão da beleza. Quando nossos valores são esquecidos e não conseguimos nos libertar dessa dependência, cometemos o pecado da luxúria. A perda dos sentidos diante da luxúria é o maior de todos os perigos, pois traz consequências significativas e perpétuas. Viver com esse conceito enraizado e agir em detrimento dessa escravidão traz à tona nossa natureza do desejo primitivo com o culto da moda que vivemos no mundo contemporâneo.

Atualmente a luxúria reversa esconde o desejo, mostrando a hipocrisia de alguns grupos da sociedade que criticam veementemente alguns comportamentos, mascarando muitas vezes comportamentos ocultos. O remédio para ela é o amor, um amor maior do que o simples desejo sexual, um amor que enxerga a beleza interior.

Nas finanças… ocorre de forma explícita no mundo consumista. A indústria que se alimenta desse pecado cresce a cada dia. Grifes, marcas, ambientes, experiências, locais, pessoas, muitos setores se aperfeiçoaram e seguiram esse rumo. O termo “compra de oportunidade” talvez seja o ponto alto desse pecado quando pensamos em finanças. É justamente em um momento sem previsibilidade que acabamos incorrendo de gastos que não fazem parte da nossa rotina e que nunca foram planejados.

7. IRA

É quando o afeto é atacado. O controle e a avaliação moral são danificados, ou seja, a “perda da razão” parece ser o único dos pecados que sentimos convicção ao perpetrar, porque sempre existe a evidência de uma justificativa (razão).

Na verdade, a ira é uma desmedida justificada, até porque vemos a ira de Deus e a ira de Jesus descritos nos textos bíblicos. Ou seja, um pecado cometido pelo próprio Deus e seu filho, na percepção cristã. Ou seja, existe um motivo ancorado em nossos valores para que “percamos a linha”, que explicita a enorme ambiguidade deste pecado. 

Nas finanças… aparece de forma clara quando precisamos chancelar algo. Quando passamos por cima do lógico e defendemos a honra nos negócios em virtude de alguma provocação ou deslealdade dos agentes que compõem nosso quadro de relacionamento, tais como um cliente, fornecedor ou colaborador.

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